Kruger: como se comportar em encontros com leões

Leões caçam de forma cooperativa e podem derrubar presas grandes, como girafas, búfalos, hipopótamos e até elefantes. Infelizmente, são caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África. Seus ossos também podem ser vendidos para a fabricação de medicamentos. Eles entram como substitutos dos ossos de tigre que se tornam cada vez mais raros.
Status na IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês): vulnerável – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 17 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul

Leão! Leão! Leão!” Walter, nosso guia, parou o caminhão e apontou para o leito do rio Sabie, que estava quase seco. Dois leões adultos descansavam na areia! O barulho dos cliques das câmeras fotográficas era contínuo e os celulares filmavam cada movimento dos felinos. Mas a verdade é que eles estavam muito longe para sair alguma coisa boa. De repente, o caminhão começou a se mover e os turistas começaram a gritar: “Para! Para! Para!” Walter respondeu: “Calma. vocês vão ver esses bichos de novo. Eles vão sair na estrada” (Veja o vídeo no final do post).

[Veja a introdução e o sumário da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

[Veja o capítulo 16 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul]

Leões descansam em praia areia no leito do rio Sabie, no Kruger, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

O guia posicionou o veículo em um local em que nossa visão ficou bloqueada e não era possível ver os animais. “Preparem as câmeras. Eles vão chegar por ali”, e apontou para o lado direito do caminhão. Os turistas estavam meio irritados. Preferiam ter ficado tirando fotos do local em que estávamos anteriormente. Mas as expressões mudaram quando os leões apareceram onde Walter previu que eles iriam aparecer, passaram do lado do caminhão e começaram a andar na estrada.

Estávamos próximos à Lower Sabie, e a hora do fechamento dos portões estava chegando. Nesse momento a estrada é tomada de carros voltando para o acampamento. Todos começaram a seguir os felinos. Os motoristas passavam os bichos, paravam logo em frente para tirar fotos, e não davam espaço para os leões.

Leão ao lado do caminhão de safári, no Kruger, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Leões na H4-1, estrada próxima à entrada de Lower Sabie camp, Kruger National Park, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Walter não teve dúvida, saiu da estrada, passou todos que estavam se aproximando demais dos leões, fechou todos os carros, deixou os animais andando na estrada tranquilamente e disse: “Vocês precisam respeitar os leões! Estão chegando muito perto e não estão dando passagem para eles. Assim eles vão se estressar e sair da estrada. Se querem tirar fotos, deixem uma abertura para eles passarem. Vocês precisam respeitá-los.”

Então, nosso guia saiu da estrada, deixou os carros passarem e voltou para o lugar em que estávamos na fila. Os leões ganharam espaço e continuaram na estrada. O relógio estava quase batendo 18h30 quando os carros de turistas começaram a sair para entrar em Lower Sabie antes do fechamento dos portões. Ficamos com os leões só para nós!

Leões demarcam o território com urina para avisar visitantes indesejados que essa parte da savana já tem dono – Foto: Fábio Paschoal

Leões saem da estrada no Kruger, África do Sul – Foto: Fábio Paschoal

Walter posicionou o caminhão à frente e esperamos enquanto os felinos vinham em nossa direção. Nessa hora, o coração bate mais forte, os olhos se enchem de lágrimas e você entende que algo mágico está acontecendo. É como se a savana parasse, só para vê-los passar. Que sensação fantástica!

Vimos quando eles urinaram nas árvores para demarcar território, quando abriram a boca para bocejar, quando passaram tão próximo ao caminhão que tive que puxar a Vanessa para ficarmos escondidos atrás da caçamba e vimos quando eles saíram da estrada para seguir outro caminho. Foi um desses momentos inexplicáveis, que ficam guardados na memória e voltam à nossa mente de tempos em tempos para nos fazer sorrir.

Veja o capítulo 18 da série Kruger: guia prático para organizar seu safári na África do Sul

Veja o Roteiro: 20 dias na África do Sul de carro

DICAS

  • A vida selvagem sempre tem prioridade: Procure não fazer nada que estresse os animais. Se eles se sentirem confortáveis com o carro de passeio, vão fazer suas atividades normalmente. Podem até passar a centímetros de você.
  • Nunca levante quando os leões se aproximarem do carro de safári: Os animais vêm o carro e as pessoas como uma única coisa. Quando você se levanta eles enxergam a forma humana e podem atacar. O mesmo vale para leopardos.

A morte do leão Cecil inicia o debate: a caça esportiva pode ajudar na conservação?

Cecil, o leão mais amado do Zimbábue foi morto por caçadores esportivos - Foto: Reprodução do YouTube

Cecil, o leão mais amado do Zimbábue foi morto por caçadores esportivos – Foto: Reprodução do YouTube

(Atualizado em 7 de agosto) A morte de Cecil, o mais querido e mais fotografado leão do Zimbábue, na África, chocou pessoas em várias partes do mundo. Uma carcaça foi utilizada para atrair o animal para fora do Parque Nacional Hwange, onde a caça esportiva é proibida. Logo depois ele foi alvejado com uma flecha. Cecil conseguiu escapar, resistiu por dois dias, mas foi rastreado pelos caçadores e morto com um tiro na concessão de caça Gwaai. A cabeça e a pele foram levadas como troféus.

Cecil tinha 13 anos e era pai de pelo menos 12 filhotes, que devem morrer quando um novo macho tomar seu lugar. O leão que assume um bando mata os filhotes de seu antecessor para fazer as fêmeas entrarem no cio e iniciar sua família.

Uma fonte que está familiarizada com o problema (e pediu para não ser identificada) entrevistada por Adam Lure, em seu artigo “A morte do leão mais amado do Zimbábue inicia um debate sobre a caça esportiva” (Death of Zimbabwe’s Best-Loved Lion Ignites Debate on Sport Hunting, no título original em inglês), publicado no site de National Geographic, diz que grandes felinos podem ser atraídos para fora de reservas protegidas com iscas colocadas em áreas onde a caça é permitida. Segundo a fonte, não há grandes leões nas áreas de concessão de caça, apesar das alegações da prática de caça sustentável.

Jane Goodall, primatóloga e autora de um dos mais belos estudos científicos já realizados no mundo, expressou seu repúdio em seu site: “Fiquei chocada e indignada ao ouvir a história de Cecil, o leão mais amado do Zimbábue. Para mim, é incompreensível que alguém tenha vontade de matar um animal ameaçado de extinção (hoje, existem menos de 20.000 leões selvagens na África). Mas atrair Cecil para fora da área de segurança de um parque nacional e, em seguida, matá-lo com uma flechada…? Não tenho palavras para expressar minha repugnância,” e concluiu: “E esse comportamento é descrito como esporte.”

O impacto da caça esportiva nos bandos de leões

Entre 1999 e 2004, um estudo da Wildlife Conservation Research Unit at Oxford University, liderado pelo Dr. Andrew Loveridge, analisou o impacto da caça esportiva na dinâmica de uma população de leões do Parque Nacional Hwange (Para saber mais acesse: The impact of sport-hunting on the population dynamics of an African lion population in a protected area)

62 leões receberam colares com GPS. 34 leões morreram durante o estudo. 24 foram baleados em áreas próximas ao parque por caçadores esportivos (13 machos adultos, 5 fêmeas adultas, 6 machos sub-adultos). A caça esportiva foi responsável pela morte de 72% dos machos adultos estudados. A proporção entre machos e fêmeas que era de 1:3 passou para 1:6 em favor das fêmeas. Os territórios deixados pelos leões que morreram foram ocupados por leões que migraram de áreas próximas e infanticídio foi observado.

Um outro estudo (Socio-spatial behaviour of an African lion population following perturbation by sport hunting) realizado no Hwange, analisou o comportamento da população de leões antes e após a legalização da caça esportiva nos arredores do parque. As evidências sugerem que bandos de leões que são perturbados pela caça esportiva apresentam movimentos erráticos, tem uma probabilidade maior de deixar o parque e, consequentemente, estão mais propensos a entrar em conflito com humanos que moram nas fronteiras da reserva.

A caça esportiva regulamentada

Mesmo assim, ainda existem argumentos a favor da caça esportiva. Reservas de caça estabelecem cotas e apenas alguns animais podem ser abatidos por ano. Segundo o artigo “A caça esportiva de leões pode ajudar na conservação?” (Can Lion Trophy Hunting Support Conservation?, no título original em inglês), publicado no site de National Geographic, alguns cientistas, o Serviço Americano de Peixes e Vida Selvagem (USFWS), e alguns grupos de conservação (incluindo o WWF) apoiam a caça esportiva regulamentada. Os defensores dizem que a atividade levanta muito dinheiro, necessário para a conservação das espécies, e pode ajudar no gerenciamento das populações se as autoridades exigirem que os caçadores escolham animais que perderam a capacidade de se reproduzir ou que possam inibir a reprodução de outros ao seu redor.

Autorizações para a caça esportiva são permitidas por tratados internacionais, desde que uma parte significativa dos recursos seja destinada à conservação das espécies na natureza e que seja comprovado por estudos científicos que a morte dos indivíduos selecionados não irá colocar a espécie em risco. Porém, os críticos dizem que a prática está sujeita à corrupção, alimenta a procura de produtos de animais selvagens no mercado negro e as medidas regulatórias são muito difíceis de serem aplicadas na prática (a morte de Cecil é um exemplo disso).

O vídeo abaixo, filmado por Bryan Orford, mostra Cecil no Parque Nacional Hwange

Para mim, é difícil acreditar na ideia de matar animais para ajudar na conservação. Mais difícil ainda é derrubar o argumento de Bryan Orford, guia de ecoturismo que trabalhou em Hwange, filmou Cecil várias vezes e deu seu depoimento para a reportagem de Adam Lure. Segundo Orford, Cecil era a principal atração do parque nacional e atraía turistas do mundo inteiro. O guia calcula que as pessoas hospedadas em apenas um dos hotéis nas proximidades do parque pagam coletivamente 9.800 dólares por dia. Em apenas cinco dias de fotografias com Cecil, o Zimbábue ultrapassaria os lucros obtidos com a taxa de 45.000 dólares para a caça esportiva. Estive na África para fazer safáris fotográficos e concordo plenamente com Orford.

O único lado bom disso tudo foi levantado por Jane Goodall: “Pessoas leram a história e também ficaram chocadas. Seus olhos se abriram para o lado negro da natureza humana. Certamente eles estarão mais preparados para lutar pela proteção dos animais selvagens e os lugares selvagens onde vivem. É aí que reside a esperança.”

Crescimento no interesse pela conservação

Jane estava certa. Após a tragédia, três companhias aéreas dos Estados Unidos (American Airlines, Delta Airlines e United Airlines) proibiram o transporte de troféus de caça em seus voos. A morte de Cecil também desencadeou uma onda de doações para grupos que lutam pela conservação da natureza.

De acordo com a reportagem “Morte do leão Cecil estimula doações para grupos de conservação da vida selvagem… e agora?” (Cecil the Lion’s Death Spurred Donations to Wildlife Groups … Now What?, no título original em inglês), publicado no site de National Geographic, a Unidade de pesquisa para a conservação de vida selvagem de Oxford (WildCRU, na sigla em inglês), que estava rastreando Cecil, considerava parar ações contra a caça esportiva há três semanas atrás, porque estava ficando sem dinheiro. Após a morte de Cecil, a WildCRU recebeu mais de 300 mil libras esterlinas (468,660 dólares) em doações. A campanha  High Five, Give $5, Save Big Cats do programa Big Cats Initiative de National Geographic, também recebeu um impulso com participação de famosos, como Arnold Schwarzenegger.

A morte do leão mais amado do Zimbábue não foi em vão, e pode ser um marco na luta pela conservação de animais selvagens em todo o mundo. Descanse em paz, Cecil.

Leões africanos em perigo: população dos felinos caiu 42% nos últimos 21 anos

Leão (Panthera leo). São caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África. Seus ossos também podem ser vendidos para a fabricação de medicamentos. Eles entram como substitutos dos ossos de tigre que se tornam cada vez mais raros. Status na IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês): vulnerável - Foto: Fábio Paschoal

Leão (Panthera leo). São caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África. Seus ossos também podem ser vendidos para a fabricação de medicamentos. Eles entram como substitutos dos ossos de tigre que se tornam cada vez mais raros.
Status na IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês): vulnerável – Foto: Fábio Paschoal

O rei das savanas africanas está em apuros. A população de leões caiu 42% nos últimos 21 anos, segundo a última atualização da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês).

A espécie continua na categoria vulnerável, principalmente porque esforços de conservação em Botsuana, Namíbia, África do Sul e Zimbábue resultaram em um aumento de 11% nas populações desses países. Porém, a maioria desses indivíduos vive em reservas fechadas que chegaram ao limite, e não conseguem abrigar mais leões.

O problema é maior em outras partes da África. Na maioria dos países a população de leões caiu 60%, em média. A pior situação é no oeste do continente, onde aproximadamente 400 leões restam em 17 nações, segundo estudo publicado no ano passado no periódico científico Plos One. Os felinos são classificados como criticamente ameaçados na região.

Os principais perigos são a perda de habitat, que faz as populações de leões e de suas presas diminuírem; e o crescimento da agricultura, responsável pelo aumento no número de conflitos entre felinos e humanos.

Os leões são os mais sociais de todos os felinos. Fêmeas da mesma família formam bandos, enquanto os machos se unem em coalizações para tentar conquistar um bando. Caçam de forma cooperativa e podem derrubar presas grandes, como girafas, búfalos, hipopótamos e até elefantes. Mas também se alimentam de animais de pequeno porte e, em situações de desespero, podem comer carniça. São caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África. Seus ossos também podem ser vendidos para a fabricação de medicamentos. Eles entram como substitutos dos ossos de tigre que se tornam cada vez mais raros - Foto: Fábio Paschoal

Os leões são os mais sociais de todos os felinos. Fêmeas da mesma família formam bandos, enquanto os machos se unem em coalizações para tentar conquistar um bando. Caçam de forma cooperativa e podem derrubar presas grandes, como girafas, búfalos, hipopótamos e até elefantes. Mas também se alimentam de animais de pequeno porte e, em situações de desespero, podem comer carniça – Foto: Fábio Paschoal

O tráfico internacional de ossos de leões também começa a crescer.  Eles começam a ser usados na medicina tradicional na Ásia (sem nenhuma comprovação científica) como substitutos para ossos de tigres que se tornam cada vez mais raros. Um dos problemas é que a Convenção sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas (CITES) permite a exportação de leões e partes do felino, assim como o comércio sob determinadas autorizações.

Para a IUCN, as populações de leões que se encontram em áreas protegidas e vivem em importantes regiões de ecoturismo na África não devem sofrer alterações, pelo menos em um futuro próximo. No entanto, as populações que carecem de proteção devem continuar a diminuir e talvez desapareçam nos próximos anos.

Segundo a IUCN, muitas estratégias regionais de conservação foram estabelecidas e estão dando resultado. Porém, mais vontade política e financiamento são necessários para salvar leões em toda a África.

Leões: caçadores solidários, predadores egoístas

Leão observando gazela - Foto: Fábio Paschoal

Leão observa gazela – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 13 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração

10h da manhã. O sol é intenso e o calor insuportável no Serengeti. Os animais começam a se concentrar próximos aos últimos refúgios onde ainda é possível encontrar água. Esse recurso, tão necessário à vida, pode significar a morte para alguns que estão ali.

[Veja a introdução e o sumário da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração]

[Veja o capítulo 12 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração]

Leoa observando gazela - Foto: Fábio Paschoal

Leoa observa gazela – Foto: Fábio Paschoal

Uma gazela dá os primeiros passos em direção à lagoa. Olha para um lado. Olha para o outro. Recua. A tensão é visível. A grama alta pode esconder predadores e ninguém quer ser o primeiro a virar presa.

A temperatura aumenta e, quando a sede vence o medo, a primeira gazela chega na beira do lago e dá o primeiro gole. Ela é seguida por algumas companheiras. Mas o tempo é curto e elas ficam pouco tempo por ali. A voz de nosso guia George interrompe o silêncio: “Tem um leão do outro lado da lagoa. Vamos até lá.”

O predador não estava sozinho. Uma fêmea observava a movimentação um pouco mais próxima da lagoa. Uma gazela pastava calmamente. Parecia se sentir segura em meio ao capim alto. Mas, quando cruzou a estrada os leões colocaram os olhos nela. A presa havia sido escolhida. Os felinos trocaram olhares e entraram em modo de caça. Olhos fixos na presa, orelhas abaixadas e andar cauteloso.

Leão se aproximando da presa - Foto: Fábio Paschoal

Leão se aproximando da presa – Foto: Fábio Paschoal

Leão partindo para o ataque - Foto: Fábio Paschoal

Leão partindo para o ataque – Foto: Fábio Paschoal

O macho vinha pela estrada, a fêmea seguia pelo outro flanco, escondendo-se no capim alto. Sem fazer barulho eles se aproximavam um pouco e paravam logo em seguida. De vez em quando levantavam a cabeça, lentamente, para checar a posição da presa e o lugar onde o parceiro estava.

Em certo momento a leoa abaixou. O leão começou a andar cada vez mais rápido, armou o bote e partiu em direção a presa. A gazela percebeu a aproximação do predador e disparou em direção à lagoa. Parecia que a tentativa havia falhado. Mas o leão havia cumprido o seu papel.

Leão correndo em direção da gazela - Foto: Fábio Paschoal

Leão correndo em direção da gazela – Foto: Fábio Paschoal

A gazela viu o leão e parecia que conseguiria escapar - Foto: Fábio Paschoal

A gazela (à direita, próxima ao lago) viu o leão e parecia que conseguiria escapar – Foto: Fábio Paschoal

Quando a gazela se aproximava da água, a leoa surgiu do meio da grama e saltou para agarrar a presa. Os três animais desapareceram na vegetação. Urros, grunhidos, rugidos. A leoa emerge com a presa na boca e o leão em seu encalço. Ela para, atrás de um pequeno monte, e ameaça o macho. A gazela era pequena demais para os dois. Derrotado, ele fez meia volta e desistiu.

O leão direcionou a gazela direto para as garras da leoa - Foto: Fábio Paschoal

O leão direcionou a gazela direto para as garras da leoa – Foto: Fábio Paschoal

Após agarrar a presa, a leoa tenta fugir do leão - Foto: Fábio Paschoal

Após agarrar a presa, a leoa tenta fugir do leão – Foto: Fábio Paschoal

A leoa afugentou o macho e comeu a refeição sozinha - Foto Fábio Paschoal

A leoa afugentou o macho e comeu a refeição sozinha – Foto Fábio Paschoal

Durante a caçada os leões cooperam com os outros membros do bando, mas na hora de comer é cada um por si.

Aquela manhã foi fantástica. Porém, nosso tempo estava se esgotando. Só havia mais um dia no Serengeti e a Grande Migração estava longe de nosso alcance. Naquela noite, George sentou conosco para discutir quais eram nossas opções. (Veja o capítulo 14 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração)

Lago Manyara: a viagem abençoada

Lago Manyara e flamingos cor-de-rosa - Foto: Fábio Paschoal

Lago Manyara e os flamingos cor-de-rosa – Foto: Fábio Paschoal

Capítulo 2 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração

Ao entrar no Parque Nacional Lago Manyara (Lake Manyara National Park), nosso guia George disse: “O parque é famoso pelos leões que sobem em árvores. Eles fazem isso em outros lugares, mas esse comportamento foi descrito pela primeira vez no Manyara. Só não esperem ver leões por aqui. Eles são extremamente raros.” Um dos guardas do parque disse que os leões iniciaram esse comportamento incomum após uma epidemia de mutucas. Os felinos começaram a escalar árvores para fugir das hordas de insetos que infestavam o chão. Mas, até hoje, ninguém sabe ao certo o motivo que levou os felinos a procurar espaço entre as aves e os macacos.

[Veja a Introdução da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração]

[Veja o capítulo 1 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração]

O parque tem 330 quilômetros quadrados e está localizado ao longo de uma escarpa. 2/3 de sua superfície é ocupada pelo Lago Manyara, de águas rasas e alcalinas, povoado por milhares de flamingos. Apesar de pequeno, a biodiversidade é enorme. A variedade de ecossistemas em diferentes altitudes garantem mudanças dramáticas de paisagens e habitats distintos para a vida selvagem.

Macaco-azul (Cercopithecus mitis) - Foto: Fábio Paschoal

Macaco-azul (Cercopithecus mitis). Formam grupos de aproximadamente 10 fêmeas, que carregam os filhotes, e um único macho. Preferem frutos, mas insetos e folhas também estão no cardápio  – Foto: Fábio Paschoal

Babuíno (Papio anubis). Em campo aberto a grama é o principal alimento. Nas florestas eles preferem frutos. Podem ser encontrados em grupos enormes, que podem chegar a 300 indivíduos – Foto: Fábio Paschoal

Na floresta densa, onde elefantes com grandes presas ainda são encontrados, macacos-azuis balançam entre figueiras, tamarindos, baobás e mognos. Babuínos andam pelo chão em grupos de até 300 indivíduos. A planície é povoada por girafas, búfalos e antílopes. Nas proximidades do lago hipopótamos são avistados e uma grande variedade de aves habita o local (mais de 400 espécies foram catalogadas, um paraíso para os observadores de aves).

Grou-coroado (Balearica pavonina). Após a união o casal permanece unido até que a morte os separe. A perda de habitat e a degradação ambiental colocam a espécie na categoria vulnerável na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) - Foto: Fábio Paschoal

Grou-coroado (Balearica pavonina). Após a união, o casal permanece unido até que a morte os separe. A perda de habitat e a degradação ambiental colocam a espécie na categoria vulnerável na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) – Foto: Fábio Paschoal

Hipopótamo (Hippopotamus amphibius). Silencioso e solitário comedor de grama na terra, mas altamente sociável e barulhento quando está na água. A caça pela carne e pelos dentes dos animais (que abastecem o mercado ilegal de marfim) colocam a espécie na categoria vulnerável na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) - Foto: Fábio Paschoal

Hipopótamo (Hippopotamus amphibius). Silencioso e solitário comedor de grama na terra, mas altamente sociável e barulhento quando está na água. A caça pela carne e pelos dentes dos animais (que abastecem o mercado ilegal de marfim) colocam a espécie na categoria vulnerável na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) – Foto: Fábio Paschoal

O animal que eu mais queria ver por ali era o grou-coroado (Balearica pavonina). Com uma crista amarela em forma de auréola, responsável pelo seu nome, a ave é um exemplo de matrimônio bem sucedido. Após a união, o casal permanece unido para o resto da vida. Ficamos em um brejo observando um par por horas, rei e rainha, desfilando com elegância entre os outros bichos.

Mas era hora de seguir para o Parque Nacional Tarangire. George ligou o carro e começou a fazer a volta quando parou de repente! “Leão! Leão! Leão!” Nosso guia estava muito agitado e não conseguia se conter. “Foto! Foto! Foto!” gritava. O felino se levantou e começou a andar, até sumir nos arbustos. George se virou para nós e disse: “Uau! Leão no Lago Manyara! É impossível! Essa viagem foi abençoada por Deus!”

Se foi sorte ou bênção divina eu não sei, mas com certeza começava ali a viagem mais fantástica da minha vida (Veja o capítulo 3 da série África Selvagem: Em Busca da Grande Migração).

Leão (Panthera leo) no Parque Nacional Lago Manyara. Os felinos do lugar são conhecidos por escalar árvores. São caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África - Foto: Fábio Paschoal

Leão (Panthera leo) no Parque Nacional Lago Manyara. Os felinos do lugar são conhecidos por escalar árvores. São caçados em retaliação pela morte de pessoas e do gado na África e se encontram na categoria vulnerável na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN  – Foto: Fábio Paschoal

DICAS

A temporada de seca (julho até outubro) é melhor para observar os grandes mamíferos. Já a temporada de cheia (novembro até junho) é melhor para a observação de aves.