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Fui convidado para participar do Workshop de Fotografia na Amazônia com João Marcos Rosa no Hotel de Selva Cristalino. O lugar fica no norte do Mato Grosso, próximo da cidade de Alta Floresta, está inserido em uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e faz parte de um grande corredor ecológico que, junto com o Parque Estadual Cristalino e a Reserva da Força Aérea, preserva mais de 2,3 milhões de hectares de floresta.
A oferta era irrecusável. O Cristalino foi minha casa durante um ano (entre 2010 e 2011). Meu trabalho era guiar grupos interessados em história natural e fazer passeios para a observação de animais da Amazônia. Era uma ótima oportunidade para rever os amigos que fiz por lá, aprender um pouco mais sobre fotografia e, de quebra, pegar umas dicas com um dos mais renomados fotógrafos de natureza do Brasil, com imagens publicadas em revistas como National Geographic, GEO, BBC Wildlife e Terra Mater.
Peguei minha câmera, pedi algumas lentes emprestadas, arrumei minha mala e parti para a viagem. O ponto de encontro com o João era o aeroporto de Alta Floresta. Saímos de lá com um grupo heterogêneo, unido graças à paixão pela fotografia e pelo meio ambiente, em direção ao Cristalino.
Chegamos na beira do rio Teles Pires, pegamos um barco, já com as câmeras na mão, e seguimos para o hotel. As árvores de mais de 50 metros fazem você se sentir pequeno e apresentam a grandeza do lugar. A Amazônia é uma terra de superlativos: é a maior floresta tropical do mundo, com mais de 40.000 espécies de plantas. Em nenhum outro lugar da Terra existem tantas aves, peixes de água doce ou borboletas diferentes. Essa é a casa de uma em cada dez espécies conhecidas pela ciência. Entre elas estão a onça-pintada e a harpia, o maior felino e a maior águia das Américas; a sucuri, a cobra mais pesada do planeta; a anta, o maior mamífero terrestre da América do Sul.
A lontra (Lontra longicaudis) é adaptada à vida aquática: possui corpo hidrodinâmico e membranas interdigitais que ajudam na natação, a pelagem tem duas camadas: a externa é impermeável e a interna funciona como isolante térmico. Os olhos as orelhas e o focinho se localizam no topo da cabeça e permitem submergir totalmente na água deixando pra fora só as partes essenciais para a vida. Se alimenta basicamente de peixes e répteis. Ocasionalmente pode comer aves e mamíferos – Foto: Fábio Paschoal
Logo que entramos no Rio Cristalino, uma lontra nos deu as boas vindas. Clique! Clique! Clique! Clique! Os fotógrafos não tiravam as lentes do animal. João, dizia as melhores configurações da câmera para fazer a foto naquele tipo de situação. Francisco, nosso guia, posicionava o barco para pegarmos a melhor luz enquanto a lontrinha, extremamente relaxada, tomava sol tranquilamente. Ela chegou até a fazer pose: ergueu o pescoço, abriu a mão apoiada no tronco e mostrou os dedos interligados por membranas que ajudam na natação. Ficamos ali até ela mergulhar no rio e sumir do nosso alcance. Não havia dúvida, o workshop seria fantástico.
Durante seis dias subimos em torres de 50 metros para ver o nascer do sol, observamos a névoa característica do amanhecer amazônico, tentamos congelar o movimento de aves em pleno voo, trabalhamos o desfoque do fundo para dar mais destaque ao assunto principal da foto, registramos o espelho d’água do rio Cristalino, vimos castanheiras gigantescas, corremos que nem louco para tentar fazer imagens de macacos (de dia e de noite), olhamos para insetos, fungos e flores em fotografias macro, subimos e descemos o rio atrás de antas e lontras, vimos o pôr do sol no rio Teles Pires, pintamos objetos com a luz para fazer fotografias noturnas e caminhamos na floresta em busca de fotos que retratassem a Amazônia e a região do Cristalino. Tudo com a orientação do João, que estava sempre disposto a ajudar a encontrar a melhor forma de conseguir a imagem desejada por cada participante do workshop.
Na Amazônia, após uma noite de chuva, o dia amanhece com uma névoa misteriosa – Foto: Fábio Paschoal
É claro que também pegamos chuva. Tivemos que descer da torre rapidamente para não pegar a tempestade lá do alto, nos protegemos na beira do rio para esperar a chuva mais forte passar, voltamos de barco rapidamente para tentar escapar de um pé d’água e, durante uma manhã e uma tarde ficamos ilhados no hotel. Mas esse tempo não foi perdido. Enquanto estávamos esperando a chuva passar aperfeiçoamos técnicas de fotografia macro com fungos e insetos nas áreas cobertas e discutimos tratamento de imagens.
Respiramos fotografia e vivenciamos a Amazônia até o ultimo segundo. Durante o nosso almoço em um hotel ao lado do aeroporto, antes de pegar nosso voo de volta pra casa, as araras-vermelhas e as canindés estavam em uma palmeira se alimentando e nos deixaram chegar bem perto. Não poderia ter sido melhor!
Um casal de araras-vermelhas apareceu para se despedir – Foto: Fábio Paschoal
Para mim, esse workshop foi muito importante. Durante o meu tempo de guia no Cristalino, enfrentei o sol causticante nos dias de seca e as chuvas intermináveis na temporada da cheia, acompanhei a mudança no comportamento dos animais durante as diferentes estações, observei as aves migratórias chegando quando o alimento fica abundante e indo embora quando o mesmo fica escasso, presenciei o crescimento dos cogumelos que decompõem a matéria orgânica e são tão importantes para o desenvolvimento da floresta, vi a floração de diferentes plantas, experimentei os frutos, gostosos ou não, que se desenvolvem nas diferentes épocas do ano… Aprendi muito sobre o ecossistema e sobre as relações entre os seres vivos e o meio ambiente. É impressionante como tudo isso é perfeito e frágil ao mesmo tempo. A Amazônia me ensinou a ser uma pessoa melhor e eu aprendi a amar esse lugar. Hoje, graças ao João, sinto que consigo passar esse sentimento de uma maneira muito mais intensa através das minhas fotos e sou muito grato por ter passado por essa experiência.
Valeu João!
Turma da primeira edição do Workshop de fotografia na Amazônia com João Marcos Rosa – Foto: João Marcos Rosa
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